A contextualização
Ao descrever o culto Amburaxó, cabe-nos antes
tratar das origens do culto de
candomblé congo-angola, que compõe-se de cinco grandes famílias,
sendo a
primeira delas a família de Maria Nenén, Sra. Genoveva do Bonfim; seguida de Gregório Makwende; depois da família Amburaxó, do Sr. Miguel
Arcanjo de Souza; da família de Mariquinha
Lemba e da família Gomeia, do Sr. Joãzinho da Goméia - Tatá
Londirá. Segundo se apurou em diversos estudos realizados a família de Maria
Nenén é de origem muxicongo, a de Makweende é de origem ovimbundo, a de
Mariquinha Lemba é de origem kimbundo, enquanto a Amburaxó e a Goméia já
nasceram misturadas com outras nações.
O Amburaxó era notadamente destacado como um culto
simples, justamente por, não somente congregar em seu seio a miscigenação
cultural adquirida nos quilombos, seu berço original, mas também por trazer as
suas cantigas e rezas (ingorossis) a fala em português, algumas vezes
entremeadas com termos yorubanos, bantos em suas mais diversas sublinguagens e
rezas portuguesas, criando uma liturgia bastante diferenciada em relação às
outras casas que, buscavam manter-se dentro dos ditames gnósticos e litúrgicos
de suas origens africanas.
O Amburaxó, não somente trouxe para o seu culto os signos,
ingorossis e cânticos miscigenados, mas também entidades, deidades, encantados
e encantamentos singulares e miscigenados. Seus orixás confundem-se com os
caboclos da pajelança e os santos católicos. Razão pela qual falam, comem,
bebem e participam da Casa de candomblé tanto em sua administração quanto na
vida espiritual dos filhos da casa, bem como interferem em trabalhos e ebós; aconselham
atitudes e resolvem demandas. Não se limitam ao simples ato de dançar na sala e
serem cultuados em seus pejis como os Inkisses bantus, Vodus geges ou Orixás
yorubanos.
Infelizmente, como foi dito acima, tal culto está se
perdendo na origem de sua raiz, mesmo porque as casas ramificadas do tronco de Amburaxó
no bairro Beiru, da raiz de Miguel Arcanjo se perdeu em obrigações em outras
nações e ritos, esquecendo-se de suas origens. É claro que não existe sequer
uma casa de culto banto no Brasil que não traga em seus ingorossis ventos da
casa Amburaxó. Uma cantiga que não se cante em português com traduções avulsas,
aproximando a pronúncia e seus fonemas em bantu com palavras na língua
portuguesa.
Qual casa de candomblé não possui um orixá Amburaxó? Um
Ogun de Ronda, Ogum Marinho ou Xoroquê? Quem não reza a pemba ou incensa a
casa? Pois bem, estas práticas são Amburaxó. Nos cultos de matriz africana não
existem tais atos. Superstições como varrer a casa de fora para dentro,
desvirar os calçados, desatar os nós das roupas, fazer as romarias e o ato da
missa com o Yawo inicando, ou até mesmo o ato da quitanda que serve para tirar
a loucura do Erè. Atos de origem Amburaxó, criados no Brasil
A casa
Os descendentes de Miguel Arcanjo provêm de uma raiz pouco
cultuada e pelo que se sabe apenas uma casa na Bahia ainda cultua esta raiz com
todas as suas formas de apresentação.
Miguel Arcanjo praticava a "RAIZ DE AMBURAXÓ" e
sua Inzo, que se chamava "TERREIRO DE MASSANGUA" se situava no bairro
de BEIRU, hoje chamado de Tancredo Neves.
Em frente ao terreiro de Miguel Arcanjo ficava o da
Mam'etu Maria Neném, o Terreiro Santa Luzia Fé e Razão (Maria Neném foi a
matriarca da raiz Tombeici). Ela e Miguel Arcanjo eram muito amigos.
Maria Neném deu continuidade às obrigações de Bernardino
Manoel da Paixão (que fora iniciado por um sacerdote Muxikongo). Bernardino foi
conhecido como Tatétu Ampumandezu e fundou a raiz KUPAPA UNSABA (Bate-Folha).
Não existia ligação parentesca (em nível espiritual) entre
Maria Neném e Miguel Arcanjo, logo, a raiz de Miguel Arcanjo era RAIZ DE
AMBURAXÓ e não BATE-FOLHA.
Miguel Arcanjo foi primeiro morador do bairro Beiru, que
leva o nome de um negro escravizado, comprado pela família Hélio Silva Garcia.
Ele herdou as terras antes pertencentes aos seus donos, hoje equivalente a área
ocupada pelo bairro Beiru, que gira em torno de 1 milhão de metros quadrados de
área.
Essas terras, após a morte de Beiru, voltaram à posse da
mesma família de origem, já que o “Preto Beiru”, como era chamado, não tinha
herdeiros libertos. Os Hélio Silva Garcia, em gratidão a Beiru, resolveram
homenagear-lhe dando o nome Beiru à sua fazenda, como consta na escritura da
fazenda datada do final do século XIX.
As terras foram então vendidas a Miguel Arcanjo, primeiro
residente da área. Anos mais tarde ele viria a fundar o terreiro de Amburaxó no
local onde se situava a casa grande da Fazenda Beiru. A venda das terras data de 1910. Foi assim
que nasceu em 1912 a Nação de Amburaxó, na área conhecida como Jaqueira da
Cebolinha, que atualmente dá nome ao Largo do Anjo-mau.
A Nação de Amburaxó, fundada por Miguel Arcanjo, se
diferia dos demais terreiros por ter uma doutrina mais aberta. “Era mais
fácil de aprender”, diz o filho-de-santo Eldon Araújo Laje, conhecido como
Jijio, do Terreiro Insumbo Meian (Vila São Roque), localizado no Largo do
Anjo-mau. Essa Nação se diferenciava das demais, como a Nação de Angola, a
Nação Keto, da Nação Gêje e da Nação Banto, entre outras coisas porque todos os
seus cultos eram realizados do lado de fora, aos pés das árvores sagradas, que
até hoje existem no espaço que circunda o posto médico e a 11ª Delegacia.
É dessa linha do candomblé que Miguel Arcanjo vai formar
seus discípulos e que mais tarde disputarão as terras do bairro: Miguel Rufino,
Olga Santos (morena) e Pedro “Duas Cabeças” que criaram seus terreiros
independentes.
Depois de formados seus discípulos, já sabedores da
Doutrina Amburaxó – pouco difundida, Miguel arcanjo morre, em 1941, aos 81 anos
de idade, vítima de um câncer de próstata. A sua morte se deu na casa de seus
filhos-de-santo Cazuza e Morena. Deixou como Herdeiras legítimas de suas
terras, Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza. Como
herdeiro do cargo de pai-de-santo ficou o seu filho-de-santo Manoel Jacinto.
Um pouco antes de falecer, Miguel Arcanjo adquiriu alguns
pedaços de terra, entre esses ao Senhor José Evangelista de Souza (seu Cazuza).
Esta área ia até o atual fim de linha do Tancredo Neves. Entre os anos de 1938 e 1944, Miguel Arcanjo
de Souza moveu uma ação de despejo contra Manoel Cyriaco, que não vinha pagando
seus honorários das terras arrendadas. O caso só foi resolvido anos mais tarde
com a expedição de mandato de reintegração de posse das terras. Após tantas
disputas, em 1979, o então governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos
Magalhães resolveu desapropriar todos os herdeiros das terras do Beiru, tirando
a posse de todas as terras em detrimento da instalação de um projeto de
urbanização da área.
O culto
Contextualizar um culto tão antigo e sincretizado é no
mínimo um exercício de investigação digna de seriado policial. Mesmo porque, as
origens deste culto tão simplificado na sua compreensão e prática se dão por um
processo de extrema intricabilidade, um emaranhado de culturas que se fundiram
a partir da heterogeneidade conhecida principalmente nos quilombos, lar de
diversas culturas provindas de diversos rincões. Sejam negros das mais diversas
nações africanas, importados na diáspora escravagista, fugidos de sua condição
servil, com suas bagagens mais heterogêneas combinadas com a religião
cristão-católicas imposta nas senzalas, acoplada com os “arranjos” que estes
escravos criaram para, disfarçadamente poderem continuar a cultuar seus orixás,
criando assim, o sincretismo que ainda perdura nos cultos de matriz africana,
ditosamente a Umbanda; brancos de diversas origens, fugidos ou refugiados com
culturas religiosas baseadas no catolicismo e religiões protestantes, e ainda
com grandes bagagens na magia européia, sejam cultos bárbaro-pagãos, quanto
suas matrizes míticas e místicas, bem como indígenas que tiveram suas aldeias
saqueadas por brancos portugueses em busca de expansão de suas terras, com sua
cultura religiosa autóctone baseada na pajelança e culto animista.
Assim, um encontro de culturas religiosas diversas que se
conluiem num rosário de sincretismo que dará origem a uma nova religião:
Amburaxó, a religião mais brasileira de todas; aquela recheada com símbolos e
signos de todas as matrizes que deram origem ao povo e à cultura brasileira.
Nossa nação Amburaxó é um grande mistério, gostaria de conhecer alguem que também fosse desta nação e queira trocar conhecimentos. Gosto muto da minha nação, sou apaixonado por Sêo Massanga, mas conheço muito pouco e na minha casa toco angola e rezo como nas outras casas desta tradição. gostaria de aprender um pouco de Amburaxô. Sou Massanganga de Cariolé com muito orgulho.
ResponderExcluirNossa nação Amburaxó é um grande mistério, gostaria de conhecer alguem que também fosse desta nação e queira trocar conhecimentos. Gosto muto da minha nação, sou apaixonado por Sêo Massanga, mas conheço muito pouco e na minha casa toco angola e rezo como nas outras casas desta tradição. gostaria de aprender um pouco de Amburaxô. Sou Massanganga de Cariolé com muito orgulho.
ResponderExcluirOi bom dia eu sou de alma e corpo Massangana cultuo o Pou que aprendi mais quando tenho dúvidas procuro os meus mais velho sou bisneto de rufino gontangue
ExcluirEu tbm!!
ExcluirEu esqeci. de eu ainda tenho o previlegio de ter o ingoroci do amburaxo que poucos conhecem
ResponderExcluirEu conheço pelo menos umas 100 casas que não cultuam Orixás sincretizados com Voduns e Minkisi. E a propósito, Nkisi não é Orixá e nem Vodun. São divindades diferentes que devem ter seus cultos especificados e não misturados... Por isso que hj em dia tá essa palhaçada de dizer que Ogum é Nkosi, Oyá é Matamba, casas de candomblé yorubá que levantam bandeira de Kitembu (Tempo), sem nem ao menos saber o fundamento disso... É vergonhoso!
ResponderExcluirGostaria de trocar conhecimentos com os irmãos. Sou a única casa que se auto declara Amburaxó no Rio de Janeiro e faço culto a Massanga. Tenho contato com uma sobrinha carnal do Sr. Manoel Jacinto, Dna Djanira de Angoromeia, mas ela já está muito idosa e é muito difícil, manter contato ela já esteve em minha casa algumas vezes e se propos a me ajudar, mas logo adoeceu. Meu e-mail é drandleish@gmail.com.
ResponderExcluirMinha casa 3 Massangana de cariole com muito orgulho Amburaxó
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