segunda-feira, 8 de abril de 2013

Reflexão sobre a religião dos Orisàs

Reflexão sobre a religião dos Orisàs

Ogà Gilberto Esu

Durante 400 anos temos vivido toda espécie de massacre e violência externa contra nossa religião. Durante 400 anos temos nos lamentados e chorado em função desses fatos, mas nada temos feito para mudá-los. Acomodamos-nos com as migalhas oferecidas e atiradas ao chão pelos “aliados piedosos", que nos permitem fazer o sincretismo com seus deuses poderosos.
Nos atiramos a elas famélicos e subnutridos, pois o que nos foi legado é na realidade uma sub-religião, e com o passar dos anos só confirmamos, na medida em que desprezamos nossa língua, nossa liturgia, nossos cultos, nossos sacramentos e aceitamos a dos outros.
Desde o dia em que nascemos na realidade já o fazemos na religião e cultura alheia, por falta de esclarecimento de nossos mais velhos, nossos filhos são levados a sacerdotes de outra religião para receber seus nomes, da mesma forma nos mesmos já adultos nos casamos em outra religião por falta de uma cerimônia própria ou do sacramento necessário na nossa.
Nossos ritos de passagens mais importantes o batismo e o casamento foram esquecidos por nossos mais velhos, em função do massacre violento a que foram submetidos, mas isso não serve de desculpa para que façamos o mesmo hoje em dia, pois estamos na era do conhecimento.
Hoje temos acesso a todo tipo de informações e podemos sem maiores problemas comprar a literatura necessária na livraria mais próxima ou estabelecer contato com yorubas que convivem no Brasil.
É fato que no "Candomblé" a religião e a cultura são orais e assim deve continuar a depender de nossos Agbás, pois foi dessa forma que o segredo foi preservado, mas hoje não tem mais propósito o oralismo desproposital,  pois ele está na realidade causando mal ao nosso futuro como religião, se é que queremos passar a essa categoria.
Alguns exemplos de nossa falta de respeito com nossa religião: Nossos filhos casam-se em outra religião, que é a oficial, e recebem nomes cristãos porque também é oficial. E os filhos de nossos filhos são cristãos porque são batizados na religião oficial, como eles também foram; Nossos (iawo) iniciados só estão completos após a benção do padre; nossos defuntos só ficam em paz, após a missa de 7 dia mandada rezar na religião católica; nossos cultos (festas) mais importante só são iniciados após uma missa rezada em nossos terreiros por um padre católico.
Nossos terreiros estão locupletados de imagens católicas, hindus, egípcias, demoníacas, etc. etc. .
E porque tudo isso ?
Nós por acaso não temos como fazer nossos casamentos?
Não temos como dar nomes a nossos filhos?
Não temos nossas próprias imagens?
Será que a água benta do padre é mais poderosa que nosso ASÉ?
É evidente que anos atrás não tínhamos como saber de algumas coisas, mas hoje se torna inconcebível continuarmos a fazê-las, na medida em que temos as informações a nosso dispor nas livrarias, ou no contato com os Yorubas que vivem aqui no Brasil.
E porque não fazemos esse intercâmbio de informações? Por vergonha de não saber? Por medo de aprender? Por não querer pagar o saber dos outros na mesma moeda que cobramos o nosso?
Chegou a hora de reagirmos contra esse tipo de atitude, seja ela de quem for. Se nossos filhos quiserem casar em outra religião, que vá e fique por lá. Afinal nós temos como casá-los.
Se os pais de nossos netos quiserem dar a seus filhos nomes cristãos, e batizá-los na outra religião que é oficial, que o façam, mas deixem nossa religião em paz, pois nós podemos dar as nossas crianças seus nomes verdadeiros com todo ASÉ e liturgias necessária, basta que comecemos a fazê-lo.
Como disse a Iyalorisá Odé Kaiode. “Meu tempo é agora”; eu tomo a liberdade de dizer: “ O nosso tempo é agora”

Ogà Gilberto Esu “Akerekoro” Ferreira, Ogà Gilberto de ESU Olosun do Ile Iya Mi Osun Muiywa Oluwo do Ile Asiwaju Lati Osun Muiwa Asogba ni Ile Yeye Ofá Biomin Balogun ni Ile Egungun Presidente do Conselho de ética do International Congress of Orisa tradition and Culture. Pesquisador da Tradição Yoruba. Articulista e consultor de assuntos afro-brasileiro para diversos órgãos nacionais e internacionais, com artigos publicados no Brasil e exterior. Presidente fundador do Afosé Ile Omo Dadá (SP). Idealizador de diversos movimentos e jornais do segmento afro-brasileiro em São Paulo. Consultor de assuntos Afro-Brasileiros para a Fundação Palmares.

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