Reflexão sobre a religião dos Orisàs
Ogà Gilberto Esu
Durante 400 anos temos vivido toda espécie de massacre e violência externa
contra nossa religião. Durante 400 anos temos nos lamentados e chorado em
função desses fatos, mas nada temos feito para mudá-los. Acomodamos-nos com as
migalhas oferecidas e atiradas ao chão pelos “aliados piedosos", que nos
permitem fazer o sincretismo com seus deuses poderosos.
Nos atiramos a elas famélicos e subnutridos, pois o que nos foi legado é na
realidade uma sub-religião, e com o passar dos anos só confirmamos, na medida em
que desprezamos nossa língua, nossa liturgia, nossos cultos, nossos sacramentos
e aceitamos a dos outros.
Desde o dia em que nascemos na realidade já o fazemos na religião e cultura
alheia, por falta de esclarecimento de nossos mais velhos, nossos filhos são
levados a sacerdotes de outra religião para receber seus nomes, da mesma forma
nos mesmos já adultos nos casamos em outra religião por falta de uma cerimônia
própria ou do sacramento necessário na nossa.
Nossos ritos de passagens mais importantes o batismo e o casamento foram
esquecidos por nossos mais velhos, em função do massacre violento a que foram
submetidos, mas isso não serve de desculpa para que façamos o mesmo hoje em
dia, pois estamos na era do conhecimento.
Hoje temos acesso a todo tipo de informações e podemos sem maiores problemas
comprar a literatura necessária na livraria mais próxima ou estabelecer contato
com yorubas que convivem no Brasil.
É fato que no "Candomblé" a religião e a cultura são orais e assim
deve continuar a depender de nossos Agbás, pois foi dessa forma que o segredo
foi preservado, mas hoje não tem mais propósito o oralismo desproposital, pois ele está na realidade causando mal ao
nosso futuro como religião, se é que queremos passar a essa categoria.
Alguns exemplos de nossa falta de respeito com nossa religião: Nossos filhos
casam-se em outra religião, que é a oficial, e recebem nomes cristãos porque
também é oficial. E os filhos de nossos filhos são cristãos porque são
batizados na religião oficial, como eles também foram; Nossos (iawo) iniciados
só estão completos após a benção do padre; nossos defuntos só ficam em paz,
após a missa de 7 dia mandada rezar na religião católica; nossos cultos
(festas) mais importante só são iniciados após uma missa rezada em nossos terreiros
por um padre católico.
Nossos terreiros estão locupletados de imagens católicas, hindus, egípcias,
demoníacas, etc. etc. .
E porque tudo isso ?
Nós por acaso não temos como fazer nossos casamentos?
Não temos como dar nomes a nossos filhos?
Não temos nossas próprias imagens?
Será que a água benta do padre é mais poderosa que nosso ASÉ?
É evidente que anos atrás não tínhamos como saber de algumas coisas, mas hoje
se torna inconcebível continuarmos a fazê-las, na medida em que temos as
informações a nosso dispor nas livrarias, ou no contato com os Yorubas que
vivem aqui no Brasil.
E porque não fazemos esse intercâmbio de informações? Por vergonha de não
saber? Por medo de aprender? Por não querer pagar o saber dos outros na mesma
moeda que cobramos o nosso?
Chegou a hora de reagirmos contra esse tipo de atitude, seja ela de quem for.
Se nossos filhos quiserem casar em outra religião, que vá e fique por lá.
Afinal nós temos como casá-los.
Se os pais de nossos netos quiserem dar a seus filhos nomes cristãos, e
batizá-los na outra religião que é oficial, que o façam, mas deixem nossa
religião em paz, pois nós podemos dar as nossas crianças seus nomes verdadeiros
com todo ASÉ e liturgias necessária, basta que comecemos a fazê-lo.
Como disse a Iyalorisá Odé Kaiode. “Meu tempo é agora”; eu tomo a liberdade de
dizer: “ O nosso tempo é agora”
Ogà Gilberto Esu “Akerekoro” Ferreira, Ogà Gilberto de ESU Olosun do Ile Iya Mi Osun
Muiywa Oluwo do Ile Asiwaju Lati Osun Muiwa Asogba ni Ile Yeye Ofá Biomin
Balogun ni Ile Egungun Presidente do Conselho de ética do International
Congress of Orisa tradition and Culture. Pesquisador da Tradição Yoruba.
Articulista e consultor de assuntos afro-brasileiro para diversos órgãos
nacionais e internacionais, com artigos publicados no Brasil e exterior.
Presidente fundador do Afosé Ile Omo Dadá (SP). Idealizador de diversos
movimentos e jornais do segmento afro-brasileiro em São Paulo. Consultor de
assuntos Afro-Brasileiros para a Fundação Palmares.
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